Mario Sergio Cortella
A palavra “emergência” tem de aparecer para nós, educadoras e educadores, em dois sentidos fundamentais. Emergir no sentido de “vir à tona” e, ao mesmo tempo, emergência entendida como uma situação de rapidez, já que hoje existe outro jeito de se pensar e fazer nos diversos temas ligados à Educação. Quando falamos da emergência de múltiplos paradigmas, é sinal de que precisamos rever, olhar de outro jeito e alterar o modo como fazemos e pensamos as coisas, como refletimos sobre a nossa prática dentro da Educação.
Não é incomum ouvirmos a frase: “Ah, os alunos de hoje não são mais os mesmos”. Quando alguém diz isso, está demonstrando sanidade mental. É claro que os alunos de hoje não são mais os mesmos. Mas essa expressão pode indicar certa distorção pedagógica. Afinal, alguém diz isso e, ainda assim, continua dando aula do mesmo jeito que dava há 10 ou 15 anos? Se os alunos não são mais os mesmos, se o mundo não é mais o mesmo, como fazer do mesmo modo? Há alguns aspectos na área da Educação que precisam ter uma durabilidade maior, mas há algo de que não podemos esquecer: a importância de olhar a realidade, porque, afinal de contas, a Educação lida com o futuro.
Uma analogia cabível é com o automóvel, em que o retrovisor é sempre menor que o para brisa. Claro! Porque passado é referência, não é direção. Nosso horizonte, que é o que o parabrisa mostra, é o futuro. E ele é maior, mais amplo do que o que temos no retrovisor. Algumas pessoas, na condução do “veículo Educação”, vez ou outra têm um parabrisa menor que o retrovisor, e o tempo todo miram o passado, imaginam que a resposta está em outro tempo. Às vezes, ela pode estar mesmo lá, desde que de lá se traga aquilo que é tradicional, o que precisa ser preservado, protegido, levado adiante. Contudo, muitas vezes, no nosso passado, o que encontramos é o arcaico, aquilo que tem de ser superado, deixado de lado, abandonado.
Com a emergência de múltiplos paradigmas, precisamos lembrar que estamos vivendo, hoje, na Educação – não só nela, mas também nela –, momentos graves, em que há certo desnorteamento, uma alteração rápida das situações do nosso dia a dia, uma mudança muito veloz na maneira como as coisas são feitas, pensadas e comunicadas. Também o adensamento exagerado das pessoas nas metrópoles levou ao esvaimento e até à extinção de alguns valores que eram fortes em outros momentos da nossa história e que precisam ser resgatados.
Esses momentos graves significam, como sempre na história humana, a possibilidade de momentos grávidos. Sim, momentos graves são também momentos grávidos! Afinal de contas, toda situação grave contém uma gravidez, ou seja, a possibilidade de dar à luz uma nova situação. Só que, em Educação, muita gente enxerga só a gravidade do momento e não vê a gravidez que ele contém. E passa boa parte do tempo dizendo: “Eu queria voltar ao passado se pudesse”, “no meu tempo...”, recorrendo, portanto, a uma nostalgia muito negativa em relação àquilo que podemos, de fato, fazer em Educação.
Há pessoas que nem sequer enxergam a gravidade do momento, quanto mais a gravidez que ele contém. Há outros que só enxergam a gravidez e perdem um pouco da base, da possibilidade de fazer algo que seja sólido e perene. E muitos correm o risco de cair não no novo, mas na novidade, isto é, passar o tempo atrás de novas coisas que estão aparecendo, sem um fundamento mais sólido e menos precário.
Estamos impregnados de futuro em nosso trabalho, seja porque o objetivo dele tem de ser a edificação de uma nova realidade, seja porque nossos alunos estão imbuídos de futuro: eles são, também, futuro. Nesse sentido, o estar impregnado tem uma significação como se a palavra fosse “emprenhado”, portanto, grávido. Juntam-se, então, tanto a ideia do poeta russo Vladimir Maiakovski – de que o futuro deva ser desatado – quanto a de estarmos grávidos de um futuro ao qual daremos à luz.
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