Max Gehringer
Meu amigo Ademar foi fazer uma entrevista de emprego. Como qualquer entrevistado normal, ele estava angustiado. Mas, pelo menos, se sentia preparado para responder adequadamente a todas àquelas questões-padrão que os entrevistadores costumam fazer. E até que o Ademar começou bem, matando a pau as primeiras três perguntas. Foi quando o entrevistador pediu: – Você poderia me dar algum exemplo concreto de sua resiliência?
E o Ademar, de imediato, respondeu:
– Resiliência. Certo. Sem dúvida. Resiliência. Veja bem…
Enquanto enrolava, o Ademar ia tentando, mentalmente, encontrar alguma pista que o ajudasse a entender que raio de palavra era aquela. Até que, finalmente, se deu por vencido. E reconheceu que resiliência não fazia parte de seu vocabulário.
Resiliência é uma palavra muito usada profissionalmente nos Estados Unidos. Lá, o termo é familiar em empresas. Aqui, nem tanto. E é por isso que nossos entrevistadores a adotaram. Ela mostra o grau de atualização do candidato. Ou o grau de frescura do entrevistador. Mas isso não resolvia o problema do Ademar, que estava ali, suando frio.
O entrevistador, então, fez aquela cara de catedrático, ajeitou as abotoaduras e explicou. Em física, resiliência é a propriedade que alguns corpos têm de retornar à sua forma original após sofrerem uma deformação. Uma bola de borracha, por exemplo. Em empresas, é a capacidade que poucas pessoas possuem de se recuperar após sofrer um golpe e de se adaptar rapidamente à nova situação. Esse golpe pode ser má sorte, injustiça, ação da concorrência, perda do emprego, chegada de um novo chefe, o que for.
Para ilustrar, o entrevistador mencionou a bíblica figura de Jó. Jó tinha tudo que alguém podia querer: riqueza, terras e uma ótima família. Mas o Senhor lhe foi tirando essas coisas, uma a uma. Até que Jó ficou sozinho e sem nada – a não ser sua inquebrantável fé. Resoluto, ele continuou a orar, como sempre fizera. Como recompensa por não esmorecer, mesmo nas piores situações, Jó receberia de volta, e com sobras, tudo o que havia perdido.
“Seria Jó um modelo de resiliência?” – perguntou o entrevistador. E ele mesmo respondeu: “Hoje em dia, não. Para os Jós modernos, a fé em Deus continua essencial, mas fé em si mesmo se tornou indispensável. O resiliente é o que não espera pela intervenção de forças externas para resolver sua situação. Ele mesmo deve operar o milagre”. Aí, o entrevistador reclinou-se em sua poltrona de couro, o Ademar fez “Ah…” e a entrevista continuou.
Na verdade, o Ademar era um modelo perfeito de resiliência. Toda a sua carreira tinha sido construída na base da reação e da adaptação. Mas ele não conseguiu o emprego. O escolhido foi outro candidato, não muito resiliente, mas que sabia o sentido da palavra. Não só dela, como de várias outras. E, por isso, impressionou melhor o entrevistador. O Ademar também nunca tinha ouvido falar em Disraeli. Se tivesse, entenderia por que não foi selecionado. Há quase dois séculos, o político britânico Benjamin Disraeli (1804-1881) já dizia: “No fim, sempre vence quem é mais bem-informado”.
Comments