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Foto do escritorColegio Sao Pedro

Será que somos solidários?

A solidariedade nem sempre nos iguala; às vezes, reforça as diferenças.

Rossandro Klinjey A solidariedade pode ser entendida como uma espécie de unidade produzida por um grupo ou classe, com base em interesses, objetivos ou padrões comuns a todos do grupo. Também é vista como um conjunto de laços que, numa determinada sociedade, une as pessoas como um todo. Dado o seu caráter de compartilhamento, muitas vezes pode ser confundida com fraternidade, o que nem sempre é verdadeiro. A fraternidade é um sentimento que evoca em nós a capacidade de ver o outro, por mais diferente que este seja, como um igual e que merece, portanto, os mesmos direitos. A solidariedade nem sempre nos iguala; às vezes, reforça as diferenças. Não resta dúvida de que na época da escravidão, os que eram favoráveis à causa abolicionista eram solidários entre si, tanto quanto havia muita solidariedade entre os que eram a favor da manutenção da escravidão. O que constitui a base da solidariedade varia entre as sociedades, mas em todas elas a solidariedade é construída pela soma da contribuição de cada um na adesão ou não a um determinado valor ou comportamento. No que diz respeito à cota individual de cada um de nós na construção da solidariedade, destaca-se a contribuição de Michael Hechter, professor emérito de sociologia da Universidade de Washington, com vários livros publicados sobre o tema. Segundo ele, a solidariedade de um grupo se constitui numa função com dois fatores que são independentes: o primeiro seria a extensão de nossas obrigações sociais e, em segundo lugar, estaria o grau com que cada um de nós individualmente se compromete com essas obrigações. Esses dois fatores fornecem, portanto, os elementos definidores da solidariedade, de forma que quanto maior for a proporção de recursos pessoais na adesão de cada membro de um grupo para se alcançar um fim coletivo, maior será a solidariedade atingida. A nossa solidariedade pode ser manifestada das mais variadas formas. Ela pode se manifestar através de um sorriso, de um piscar de olhos, ou numa piscada de farol em uma rodovia para anunciar ao motorista que vem na contramão que há animais na pista, um acidente ou, o que é melhor ainda para muitos, que há uma blitz da polícia rodoviária. É justamente sobre essa última forma de solidariedade que eu gostaria de falar. Com o aumento da rigidez da lei seca no Brasil, estamos presenciando a imensa rede de solidariedade formada entre as pessoas, a maioria das quais estranhas entre si, mas que têm um traço em comum que as une como uma família, a família dos embriagados que muitas vezes terminam a noite como assassinos no trânsito. Motorista utilizando smartphone ao dirigir, com os recursos tecnológicos de hoje, não precisa nem piscar o farol para o motorista ao lado – basta baixar no GPS ou nos smartphones os aplicativos que possibilitam o exercício da solidariedade da contravenção e do crime. Traficantes de drogas usam foguetões para avisar que a polícia está chegando, já os “homens de bem”, usuários da droga lícita que é o álcool, avisam numa teia de solidariedade tecnológica onde estão as blitz com bafômetros. Às vezes eu sonho demais. Fico imaginando um Brasil no qual esses mesmos aplicativos servissem para informar, com a precisão típica do GPS, ao SAMU onde um acidente aconteceu, ou à polícia onde está havendo o desenrolar de um crime, ou à delegacia da mulher, onde uma mãe de família indefesa está sendo espancada por um marido alcoólatra, ou à delegacia da infância e juventude onde uma criança está prestes a ser abusada sexualmente… Por enquanto, isso ainda é uma grande ilusão, pois seria pedir demais a esses autômatos inconscientes e inconsequentes, que são escravos submissos da falta de caráter e moral débil, somados aos efeitos hipnóticos do álcool. Seria pedir demais que essas pessoas saíssem de um estágio primitivo de solidariedade tribal para, indo além de seus interesses mesquinhos, usarem a tecnologia não para destruir, mas para servir, formando uma teia da fraternidade universal. Se você é um desses que usa esses aplicativos de forma solidária como os demais “bebuns” da vida, não se esqueça: se um dia você estiver no velório de alguém que você ama e que sofreu um acidente de trânsito, ou porque estava alcoolizado ou porque foi vítima de um embriagado que vinha noutro carro, lembre-se de que você tem sua cota pessoal de participação. E não pense que isso foi um mero acidente, foi na verdade um crime com vários autores, entre os quais, você.

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