Fernanda Maranha
O trabalho voluntário é um ato de bondade e generosidade que pode ser feito por qualquer um, apenas doando um pouco de seu tempo para melhorar a vida de quem mais precisa. Diversas são as instituições e os tipos de trabalhos voluntários que podem ser feitos. E, além da clara ajuda que é dada para quem carece de cuidado, quem pratica o voluntariado também pode ganhar muito com tal ação.
Um dos principais benefícios àquele que doa o seu tempo ao próximo é o de conhecer diferentes realidades. Isso traz consigo a sensação de pertencimento a um grupo e à consciência de como funciona a sociedade.
Na adolescência esses valores tornam-se ainda mais importantes, pois auxiliam na construção de uma personalidade mais consciente e responsável na vida adulta, como afirma a psicóloga Angeline Uenoyama, do Espaço Clínico Ápice. “Quando nos deparamos com situações ou pessoas com histórias muito distintas da nossa, descobrimos que o mundo é muito diferente daquilo que imaginamos e, assim, ampliamos nossa percepção e entendimento sobre ele”, diz.
O conhecimento prático é outro benefício do qual os adolescentes que se dedicam ao trabalho voluntário podem desfrutar. “O engajamento com o voluntariado na fase de adolescência pode ser um diferencial tanto em termos sociais como profissionais”, diz a psicóloga Angeline. Ela elenca outros aprendizados que podem ser absorvidos do trabalho voluntário, como aprender novas habilidades, estimular novas vocações e até colocar em prática talentos ainda desconhecidos – o que pode inclusive ajudar na escolha da profissão.
Já entre as habilidades sociais adquiridas, a psicóloga destaca o estreitamento de relações com outras pessoas, o desenvolvimento de espírito de equipe – ou seja, desenvolver a noção de que o trabalho e a instituição só funcionam se muitos ajudarem para que isso aconteça – e também a consolidação da cidadania do jovem desde cedo.
O benefício dos jovens para as instituições
As instituições de caridade também se beneficiam dos jovens que desejam fazer trabalho voluntário. Um exemplo disso é a organização não governamental Operação Sorriso. Trata-se de uma instituição nascida nos Estados Unidos, em 1982, que tem como principal objetivo realizar missões cirúrgicas para operar crianças que nasceram com fenda palatina e lábio leporino, com atuação em sessenta países em todo o mundo.
No Brasil, a instituição atua desde 1997 e realiza missões voluntárias para fazer operações em três das cinco regiões brasileiras.
Por ser uma organização de natureza médica, a maior parte dos voluntários que participam das missões – cerca de duzentos no Brasil e mais de 6 mil no mundo – são médicos. Mas os jovens também têm papel especial, conforme relata Ana Leme, coordenadora de comunicação na Operação Sorriso.
“Além dos médicos, temos voluntários para outras funções: quem cuida dos prontuários, insere dados no sistema e também os que fazem as fotos técnicas dos pacientes, fora os estudantes que atuam como apoio em geral”, diz Ana.
O trabalho da Operação Sorriso com jovens acontece em todo o mundo e começou quando o casal de fundadores da ONG, Bill e Kathy Magee, que eram médico e enfermeira, respectivamente, decidiram levar seus filhos para as missões e só viram vantagem na ação, pois os jovens se encantaram pelo voluntariado.
Hoje, a entidade atua no modelo de clubes estudantis: são sete em cinco estados brasileiros. “Os clubes são formados por estudantes de escolas e faculdades, sem limite de idade, e o intuito é despertar o trabalho voluntário neles desde cedo, visando que eles se tornem futuros líderes”, conta Ana.
A instituição trabalha quatro pilares com os adolescentes, conforme explica a coordenadora de comunicação: liderança, educação, conscientização e serviço social. “O objetivo é fazer ações em conjunto que se encaixem nesses quatro pilares”, conta Ana. Alguns exemplos são: auxílio na arrecadação de fundos e doações, divulgação da causa da ONG e suporte nas missões de cirurgias.
Um dos prêmios que a organização dá como recompensa ao bom trabalho realizado pelos clubes estudantis é a oportunidade de viajar com as missões, para que eles possam perceber, na prática, como o trabalho de cada um impacta vidas – e o prêmio é concorrido!
“Essa molecada vem com uma energia muito grande”, comemora Ana sobre a participação dos adolescentes nas missões voluntárias. Ela revela ainda que eles dormem tarde, acordam cedo e têm disposição de sobra para apoiar o trabalho, trazendo consigo energia positiva para lidar com as crianças e uma renovação no grupo.
“Se estamos acostumados com as mesmas coisas, eles trazem ideias inovadoras. Os jovens de hoje em dia já têm uma consciência social muito forte, nós não precisamos ensinar isso, eles vêm com a vontade de ajudar e a gente só dá um caminho”, conclui Ana.
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